terça-feira, 7 de outubro de 2008

Os olhos do amor


Contam que no meio de uma rodinha de deuses, semi-deuses, faunos, centauros e hamadríades, Eros (deus do amor) e Mória (deusa da Loucura) brigavam pra valer.
Como Eros fosse mais jovem, mais forte e estivesse levando a melhor, Mória começou a usar de golpes baixos, e, em determinado momento, enfiou todas as dez longas e afiadas unhas no rosto e nos olhos do deus do Amor, cegando-o.
Aí a coisa pegou, e o próprio Zeus, o deus dos deuses, foi até lá, iradíssimo, ver o que estava acontecendo.
Mas já não havia muito a fazer.
O pequeno deus estava irremediavelmente cego, graças às unhadas da outra, que, de resto, ainda permanecia por lá, encolhidinha num canto, toda arrependida.
Diante das circunstâncias, Zeus fez o que podia fazer.
Dirigindo-se à Mória, falou:
"Tu, que foste a causadora disto, estás condenada a servir-lhe de guia até o fim de teus dias".
E foi assim, e desde então, que o Amor passou a ser guiado pela Loucura.

A lição do Feiticeiro

Um feiticeiro africano conduz seu aprendiz pela floresta.
Embora mais velho, caminha com agilidade, enquanto seu aprendiz escorrega e cai a todo instante.
O aprendiz blasfema, levanta-se, cospe no chão traiçoeiro, e continua a acompanhar seu mestre.
Depois de longa caminhada, chegam a um lugar sagrado.

Sem parar, o feiticeiro dá meia volta e começa a viagem de volta.
- Você não me ensinou nada hoje - diz o aprendiz, levando mais um tombo.
- Ensinei sim, mas você parece que não aprende - respondeu o feiticeiro.

- Estou tentando lhe ensinar como se lida com os erros da vida.
- E como lidar com eles?
- Como deveria lidar com seus tombos - responde o feiticeiro. - Em vez de ficar amaldiçoando o lugar onde caiu, devia procurar descobrir o que te fez escorregar.